Eles
partiram dia 31 de julho de São Vicente (SP) e nesta quarta-feira (3)
chegaram em Tibagi. Sobre duas rodas, percorrem um roteiro antigo, cheio
de história, cultura e mistérios. No Parque Estadual do Guartelá,
tentaram imaginar como a paisagem paradisíaca encantou e representou
desafios para latino-americanos que criaram a primeira ligação
interoceânica há dois mil anos.
O grupo de moto-turistas que chamou a
atenção dos tibagianos, por suas máquinas de multicavalos e trajes
especiais, partiu rumo a Pitanga e, mais além, ao Machu Picchu no Peru e
ao Chile. Eles estão percorrendo o milenar Caminho do Peabiru, entre o
Atlântico e o Pacífico, em 53 dias sobre motocicletas.
Rota
de aproximadamente cinco mil quilômetros, o Caminho do Peabiru teve sua
origem 100 anos Antes de Cristo pelas tribos Xavins e foi usada por
povos de todas as épocas, inclusive nos dias atuais.
Com os Incas no
primeiro milênio Depois de Cristo, o eixo de ligação firmou-se como
principal para intercâmbio entre diferentes tribos. Mais tarde, nos
últimos 500 anos, permitiu que colonizadores, jesuítas, bandeirantes,
desbravadores e até os correios percorressem o interior do Sul do Brasil
e de outros países. É sobre este trajeto que Gustavo Dias, o Guga,
comanda a expedição Caminho do Peabiru, num grupo que tem ainda outras
três pessoas sobre duas rodas.
Tudo
começou com passeios de finais de semana pelo simples prazer de pilotar
as grandes motocicletas e passear por aí. Depois, o jornalista Guga
começou a roteirizar os passeios para tentar extrair o melhor de cada
destino. Até que a história do Caminho do Peabiru passou a ocupar boa
parte de seu tempo e de sua curiosidade. Ele pesquisou a fundo e traçou o
roteiro que agora está conhecendo. “Acredito que passaremos por 90% do
traçado original, do principal tronco do caminho”, indica Guga.
Diário
Durante a viagem, tudo é registrado em vídeos, fotos e textos que Guga posta todos os dias na página www.diariodemotocicleta.com.br.
Já estão no site imagens do Parque Estadual do Guartelá, sexto maior
canyon do mundo em extensão. “Fantástico, muito lindo. Acho que não
existe câmera de vídeo que mostre a amplitude do lugar. Um espaço lindo
que vocês têm no quintal de casa”, descreve Guga.
O
empresário Jeová Souza Santos também participa da expedição e está
impressionado com as belezas cênicas que tem encontrado no caminho. “É
uma área linda no nosso país com vegetações exuberantes, a população de
cada cidade com hábitos e costumes. Isso me dá ainda mais orgulho de ser
brasileiro. Nosso país tem muito para ser mostrado”, indica.
Do
litoral paulista, o grupo embrenhou-se pelo Paraná e nem sempre por
estradas pavimentadas. No Vale do Ribeira, os moto-turistas tiveram de
esperar a estrada ser liberada após desmoronamentos ocasionados pelas
fortes chuvas. De Campo Largo até Tibagi a viagem foi mais tranquila. Já
em Capão Bonito (SP), eles tiveram acesso a um objeto especial: uma
ponta de lança que teria sido fabricada pelos Incas – o que ajuda a
comprovar que esses nativos percorriam todo o trajeto até o Oceano
Atlântico.
A
expectativa agora é por visitar propriedades rurais no interior do
Paraná onde o traçado original do Caminho ainda é preservado em áreas
naturais. “A 'pegada' da nossa viagem é essa, sem nenhuma intenção de
fazer algo investigativo, mas somente de percorrer o caminho que os
Incas fizeram sobre o trajeto que os Xavins iniciaram 100 anos Antes de
Cristo”, comenta Guga.
Museu
Neri
Aparecido Assunção, diretor do Museu Histórico Desembargador Edmundo
Mercer em Tibagi, recebeu o grupo e apresentou peças que remetem ao
antigo percurso e que fazem parte do acervo da casa. “Dom Alvar Cabeça
de Vaca passou pelo caminho de Peabiru em 1541, margeando a esquerda do
Rio Tibagi.
Ele descansou por alguns dias na localidade de Amparo, hoje
distrito”, explicou Neri.
Para
Guga, a oportunidade é também de divulgar a importância da história
pré-colombiana da América do Sul. “Uma coisa triste é que pouco se
aprende sobre isso na escola. É uma pesquisa difícil de ser feita. Mas o
Brasil e América Latina se desenvolveram e se expandiram graças ao
Caminho do Peabiru, pois por onde os Incas passavam, construíam pequenas
aldeias, arraiais, pequenas cidades. Uma delas, inclusive, é onde está
São Paulo”, ressalta.
Jeová salienta ainda que quem quiser acompanhar o grupo pode ter acesso ao rastreamento dos motociclistas pelo www.spprotech.com.br. Basta navegar até a área restrita e usar o login 'peabiru' e a senha 'peabiru' para obter as informações.
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